HISTÓRIA DE IPATINGA:
AÇO, SANGUE E PROGRESSO
Giovana
Prado Calhau -
“O caminho é cheio de asperezas, mas não obstante fadigas e humilhações, eu
tenho ainda um sonho...
Sonho que, sobre as colinas, os filhos dos
antigos escravos e os filhos dos escravizadores
possam sentar-se juntos à mesa da
fraternidade. Sonho que o país,
repleto de opressão e brutalidade, seja
transformado numa terra de liberdade e
justiça”.
Martin
Luther King
Dedicamos este estudo a todas as pessoas
que foram vítimas do massacre corrido na cidade de Ipatinga em outubro de 1963.
Retroagir no tempo para
trazer à baila a trágica história da cidade de Ipatinga é ressuscitar um
passado nefasto, enigmático e, ao mesmo tempo, paradoxo.
Nefasto devido o
derramamento de sangue humano, de uma massa de trabalhadores, em sua maioria,
sem profissão definida, que corria em abundância pelas vielas de um vilarejo,
quando Ipatinga não era mais que um pequeno povoado.
Normalmente, no contexto
sócio-histórico, segundo Moraes (1983, p. 97):
“quando se refere à população de um
lugarejo como povoado, estima-se a média de 200 (duzentos) a 500 (quinhentos)
habitantes”.
Ipatinga é uma cidade brasileira localizada no leste
do Estado de Minas Gerais, na Região Metropolitana do Vale do Aço, que teve sua
emancipação política realizada em 29 de abril de
É importante mencionar que a cidade de Ipatinga, antes de se tornar um
pequeno povoado teve como antecessores os índios. As terras onde hoje se
localiza a cidade de Ipatinga, no
século XVI e XVII, eram ocupadas pelos
Índios Botocudos, pertencentes à tribo dos Zamplants, da grande nação Tapuia,
que viviam à margem dos Rios Doce e Piracicaba.
O Bandeirante Borba Gato chegou no
ano de 1683 na Região, na confluência dos Rios Piracicaba e Rio Doce. Em 1808
as cortes Portuguesas declararam guerra para o extermínio dos nativos
Botocudos. Já no ano de 1819 o militar francês Guido Marliéri
lutou pela civilização pacífica dos nativos da região. Foi editado o
Regulamento Interino para o Aldeamento e Civilização dos Índios Botocudos no
Rio Doce no ano de 1824. No Século XX os colonizadores não indígenas dedicavam a
pequenas agriculturas na região.
Lentamente o desenvolvimento na região vai ganhando
mais espaço. Em agosto de 1922 foi inaugurada a Estação Ferroviária de Pedra
Mole às margens do Rio Piracicaba para receber estrada de ferro Vitória-Minas.
Posteriormente, em 1930, o trajeto da estrada de ferro foi alterado e a estação
de Ipatinga, (atual estação memória) substituiu a de Pedra Mole. Ainda no ano
de 1930, ao redor da estação se desenvolveu um povoado, então subordinado ao
município de Antônio Dias. No ano de
Em dezembro de 1953, Ipatinga torna-se município de
Coronel Fabriciano, intensificando-se na região a
produção de carvão vegetal, continuando a dedicação a
pequenas agriculturas, até que posteriormente surgiu o Projeto de instalação da
USIMINAS, que diversificou a economia na região. Ipatinga foi escolhida para sediar
a USIMINAS em virtude da existência da ferrovia Vitória Minas e a proximidade
do pico do Cauê, importante jazida de minério de
ferro. Outra justificativa para a instalação da siderúrgica em Ipatinga, dada
por Amaro Lanari Junior, 1º presidente da empresa,
é a disponibilidade de energia elétrica na região, graças à
existência da usina hidrelétrica de Salto Grande. (ALVES: 2006, p.1)
Enigmático é o episódio
ocorrido em 7 de outubro de 1963, devido as controvérsias e as diferentes
versões sobre o acontecimento, ficando este conhecido como “O massacre de
Ipatinga”.
Fator de grande importância
observado é a omissão das instituições educacionais sobre esse relevante
episódio. Os discentes estudavam História do Brasil, seu descobrimento; o lento
progresso do país que se arrastaram por muitos séculos, causas e conseqüências
da morosidade de seu desenvolvimento; a qualidade de vida dos brasileiros em
diversas fases econômicas; as articulações políticas, podendo enfocar nesse
aspecto um fato não muito remoto que abalou todo Brasil: o golpe militar de
1964, que, rapidamente, transformou-se em notícia sensacionalista, sendo
difundida em nível nacional e internacional. Notícia que foi
extremamente explorada pela mídia, sendo veiculada pelos meios de comunicações
mais destacados do país, através de jornais, revistas, rádio e televisão em
âmbito mundial. O golpe militar de 1964 foi absorvido naturalmente na História
do Brasil como um dos mais relevantes fatos na década de sessenta.
Entretanto, quase que
concomitantemente, apenas alguns meses precedentes ao golpe, Ipatinga
encontrava-se numa situação de cizânia entre trabalhadores e policiais,
deixando um marco sanguinário de 8 (oito) pessoas mortas, inúmeros feridos
gravemente e a trágica morte de uma criança de 3 (três) meses. É importante
salientar que os obreiros em conflito com os policiais eram empregados da
Usiminas que reivindicavam o direito de maior valorização do ser humano, tanto
como cidadão, quanto como profissional, para proporcionar-lhes condições de vida
mais digna e igualitária.
Vale ressaltar que a
insatisfação e a revolta dos trabalhadores não surgiu de um momento para outro.
Desde o início da construção da usina já se notava o descontentamento da classe
operária, que foi gerada pelas péssimas condições de vida e de trabalho que
eram impostas aos trabalhadores. O povoado de Ipatinga não tinha infra-estrutura para receber a grande
quantidade de imigrantes, que de acordo com dados oficiais totalizaram em
média, 15.000 pessoas.
O sonho de uma vida melhor, transformou-se
Pereira (1984, p. 76) explica:
A alimentação era algo que
preocupava, porque não era boa. As refeições eram chamadas de bandejões. Grande
quantidade de alimento, às vezes vinha mal temperada, mal cozida, de má
qualidade. [...] Eu vi quadros horrorosos lá. Para se tomar refeição no
bandejão, capatazes guardavam as filas e por qualquer motivo dava quebra-pau.
Um aglomerado de pessoas de todos os lados, índoles das mais rebeldes que se
possa imaginar. Algo que assustava.
Entretanto, o que tornava a
situação ainda mais difícil eram as discrepâncias entre a qualidade de vida dos
operários em relação a dos engenheiros e japoneses. Enquanto os primeiros
viviam em barracões sem nenhum conforto (chamados alojamentos) e tinham uma
alimentação de má qualidade, os últimos residiam em casas luxuosíssimas, nos
bairros construídos pela usina. A alimentação era muito diferente, era comida
de gente graduada, que era servida em restaurantes até com garçons.
Estes fatos somados a
outros similares que pesavam sobre os ombros dos obreiros foi gerando
descontentamento e revolta nessa classe de trabalhadores. Não havia respeito
com os operários que laboravam na usina. Eram revistados na entrada e saída em
cada turno, um a um, de maneira degradante. Os apelos não eram atendidos,
ficando cada vez mais difícil a posição dos trabalhadores. Nesse ínterim, na
saída do turno os vigilantes fizeram a revista como era praxe da rotina de
empresa e encontraram um operário com um resto de leite que havia sobrado do
lanche com o intuito de levar para o filho. Um vigilante, então, atirou contra
o recipiente, por pouco, quase acertando o trabalhador. (Pereira: 1984, p. 79).
Este foi o último e
humilhante episódio vivenciado dentro da Usiminas antes da chacina que ocorreu
em 7 de outubro de 1963 que gerou a insatisfação dos trabalhadores, de um modo
geral.
Varela (2004, p.1) comenta
a atitude dos trabalhadores após a cena humilhante mencionada acima:
A massa de operários abriu o portão à força; os
guardas não puderam fazer nada. Acionada, a polícia, quando chegou encontrou
poucos trabalhadores, mas não perdeu a viagem. Os retardatários foram presos e
espancados. Os soldados, porém não se contentaram e foram para o alojamento
Santa Mônica. Avisados com antecedência, os operários fizeram barricadas e se
preparam para a luta. Os policiais recuaram partiram para o alojamento Chigaco Blitz,
acampamento dos trabalhadores de empreiteiras, mais frágeis. Cena mais
humilhante Ipatinga jamais tinha visto. Trezentos operários foram arrastados
dos barracos (um foi assassinado no interior da casa) e obrigados a deitarem no
chão, de costas, com a cara na lama. Estava chovendo. Os soldados riscando as
espadas nos seus corpos, disparando rajadas de metralhadoras para o ar. Alguns
deles, sórdidos, botaram os cavalos para pisotear os trabalhadores, urinaram em
cima deles. Muitos foram feridos.
Pelo exposto,
pode-se observar o episódio inumano e cruel que sofreram os operários do
alojamento Chigaco Blitz, mais despreparados em todos os aspectos em relação
aos funcionários do alojamento Santa Mônica, que laboravam na usina, enquanto
os outros, trabalhavam em empreiteiras e eram chamados de peões ou bóias-frias.
Pelo pseudônimo dos trabalhadores percebe-se o desdém do tratamento que
recebiam no trabalho.
Os outros
operários logo tomaram conhecimento da atitude animalesca dos policiais e
resolveram, em massa, deflagrar greve. Nada mais podia conter a revolta, a
mágoa e a cólera daqueles homens que viviam em constante ameaça e vigilância,
até na hora das refeições, conforme mencionado anteriormente. Unidos pelos
mesmos sentimentos, à revolta (acredita-se que a revolta era o melhor termo
para descrever o sentimento da classe operária), abraçados à mesma causa, a
greve aconteceu.
Varela (2004,
p.66) narra sobre a greve:
Na manhã do dia 7 de outubro, 2 mil trabalhadores
puseram-se em frente aos portões da Usiminas. Aos companheiros que iam
chegando, contavam o acontecimento da noite anterior e todos aderiram ao
movimento. Prepararam uma lista de reivindicações a ser entregue a diretoria da
empresa. Às reivindicações econômicas históricas, acrescentaram: retirada da
polícia e substituição do corpo de vigilância.
Entretanto,
mesmo com a solicitação dos operários grevistas da retirada da polícia, pedido
não atendido, fato que dificultou ainda mais a situação, aumentando o conflito,
surgindo pacoviamente o massacre.
Alves ( 2006,
p.2) comenta:
A Polícia, é claro, não tardou a chegar. Veio um
caminhão, com uma metralhadora, tripé, instalada. A multidão vaiou, algumas pedras
foram lançadas. Os soldados ameaçaram atirar. O vigário, padre Avelino,
percebendo a gravidade da situação, tentou convencer o administrador Gil
Guatimosin a receber uma comissão de operários, mas ele disse que não
negociaria com grevistas. Enquanto conversavam numa sala o administrador e o
comandante do destacamento Capitão Robson, alguém viu este passar um bilhete
para o tenente Jurandir Gomes de Carvalho. Pouco depois, a metralhadora abria
fogo. Primeiro, para cima, depois em cima dos operários. Começou a carnificina.
Mais de 15 minutos de rajada e dezenas de corpos lançados no ar e caindo no
chão, estremecendo. José Isabel do Nascimento, fotógrafo amador, registrava
tudo até ser despedaçado pelas balas. A seguir, os policiais (eram apenas 19)
fugiram com medo de serem linchados, abrindo fogo no meio da multidão e fazendo
novas vitimas, dentre as quais uma mulher grávida e uma criança de três meses
(a mãe, ferida, escapou). Foram se esconder nos morros que cercam Ipatinga. Os
vigilantes e os administradores da Usiminas também fugiram. Há controvérsias
sobre o saldo trágico, mas é voz corrente que houve mais de 30 mortos e 3 mil
feridos.
Até os dias atuais há
divergências em relação aos inúmeros mortos e feridos no massacre, sendo ainda
um mistério a quantidade de vítimas ocorridas no dia 7 de outubro de 1963.
O
motivo do massacre segundo o
jornal Diário da Tarde, nº 21.197, publicado no dia seguinte ao massacre,
terça-feira, do dia 08.10.1963, trouxe a notícia segundo informações dadas pelo
representante da Usiminas, ....“na
véspera, operário na companhia entraram em atrito com os rondantes da própria
empresa por causa da exigência feita aos operários no sentido de que
apresentassem ao corpo de segurança da Usiminas a carteira funcional. A
exigência é tida como indispensável, pois aquela companhia emprega número muito
grande de operários. Houve luta e foi necessária a presença de soldados do
destacamento local. O incidente foi encerrado e tudo parecia normalizado, pois
os trabalhadores recolheram-se aos seus dormitórios. Pela madrugada, soldados
invadiram o alojamento de Santa Mônica e passaram a espancar os operários.
Trezentos homens foram retirados dos seus leitos e jogados no chão com as mãos
na nuca. Os trabalhadores revoltados com as atitudes de alguns policiais
resolveram entrar em greve para pedir o afastamento dos militares da cidade. O
capitão Robson foi chamado à sede da Usiminas para um atendimento com os
líderes do movimento grevista. Os operários formaram vários piquetes e passaram
a rondar os portões da Usina, tentando uma punição para os militares. Por volta
das nove horas, grupos de trabalhadores iniciaram uma vaia aos militares que
haviam sido colocados no portão da garagem a fim de garantir aquela
dependência. Pedras foram atiradas sobre os militares, que preferiram usar suas
metralhadoras contra a multidão.”
O referido jornal trás ainda
que “os militares subiram num caminhão e
passaram a metralhar populares que transitavam pelas ruas daquele centro industrial,
matando seis pessoas e ferindo sessenta e nove. Logo após, comandados pelo
Capitão Robson e Tenente Jurandir entricheiraram-se nos morros da localidade,
temendo a reação de sete mil operários da Usiminas e firmas empreiteiras. Uma
criança de três meses de idade foi varada pelas balas, quando estava nos braços
de sua mãe, que caiu gravemente ferida. Um cego que estava nas ruas pedindo
esmolas, morreu em conseqüência dos disparos do bando. Cinco operários morreram
nas dependências da companhia quando protestavam pos atos de violência
praticados na véspera pelos criminosos.”
Foram três dias de
rebelião. Os operários não se acomodaram apenas em deflagrar a greve,
incendiaram a guarita da vigilância que motivara o motim, destruíram o caminhão
onde a metralhadora foi acionada, a delegacia e a cadeia pública. Este foi um gesto de protesto dos
trabalhadores contra os abusos praticados pela polícia.
A revolta dos operários não
foi totalmente em vão, de
acordo com Diário da Tarde, nº 21.197, de terça-feira, do dia 08.10.1963, por
volta das quatorze e trinta horas, ainda do dia sete de outubro, foi dado
inicio à pacificação do conflito através de uma reunião com os líderes
metalúrgicos de Ipatinga, Acesita e Coronel Fabriciano, juntamente com o
secretário de segurança pública, Caio Mario e Coronel Jose Geraldo de Oliveira,
comandante da Policia Militar, e o Sr. José Raimundo, diretor da Usiminas.
As propostas solicitadas
pelos operários foram atendidas,
Fatalidade ocorreu com o
Golpe Militar de 1964 que interferiu diretamente nas conquistas dos operários
da Usiminas. As sonhadas reivindicações finalmente atendidas em 1963 foram
retaliadas com a tragédia do episódio do Golpe.
Vislumbra-se diante a
selvageria apresentada no tortuoso conflito ipatinguense, no período de 1958 à
1963, instalação, inauguração e desempenho das atividades econômicas da
Usiminas, figura a ausência dos direitos humanos constitucionais regido pela,
então, República Federativa do Brasil de 1946, atualmente denominada
Constituição Federal do Brasil, fonte máxima do direito nacional.
O massacre de Ipatinga,
proeminente episódio no contexto histórico nacional não foi inserido na
História do Brasil. Os estudantes brasileiros, principalmente os ipatinguenses,
praticamente, não tiveram e, até a contemporaneidade, não têm conhecimento do
calamitoso passado da cidade de Ipatinga. O silêncio desse fato parece ter sido
sepultado junto às vítimas, não sendo fonte de conhecimento nas escolas
públicas e particulares.
Não foram apenas as
instituições educacionais que emuderecerem o catastrófico massacre de Ipatinga.
As pessoas que participaram direta ou indiretamente do conflito, quase sempre,
evitavam falar sobre o assunto, mostrando-se indecisas, enquanto outras
demonstravam pávido ao mencionar qualquer questão que se referisse a chacina
que ocorreu em 1963 na cidade de Ipatinga. Após mais de quatro décadas ainda se
percebe na maioria das pessoas um temor inexplicável, preferindo fugir da árdua
realidade de um passado macabro, deixando, quase sempre, a transparência do
receio de retaliações.
O termo paradoxo, de acordo
como o Minidicionário da língua portuguesa: Melhoramentos (1998, p. 376),
conceitua, sendo: “opinião contrária a comum” não há como contestar sua
veracidade, uma vez que, o mencionado vocábulo, está associado ao tema em
epigrafe, onde a bifurcação de aço e sangue desperta o progresso. Por mais
incoerente que a temática possa parecer conhecida e/ou reconhecida, não se pode
pensar simplesmente em uma alusão aleatória para dar sentido a um fato verídico:
aço e sangue eclodiram o progresso da cidade de Ipatinga.
A Usiminas, organização que
utiliza o aço como basilar matéria-prima na elaboração de seus produtos, aponta
em seu patrimônio, no Ativo Circulante, em estoques, um dos maiores itens em
termos monetários, os bens, registrado no Balanço Patrimonial da usina.
Percebe-se, assim, a proeminência desse elemento, o aço, que é empregado em
âmbito nacional e internacional na grande maioria das indústrias.
Para o funcionamento da
usina apenas a matéria-prima, o aço, não era suficiente. Fazia-se
imprescindível outro elemento de superior notabilidade, a força do trabalho
humano. Desta forma, houve a necessidade de se contratar pessoas para
desempenhar funções inerentes às atividades da usina, principalmente para a
instalação da mesma e, posteriormente, iniciar as atividades da indústria.
Tuler (2007, p. 31) comenta
em sua obra “O Massacre de Ipatinga” como se processou o recrutamento e seleção
da Usiminas:
As
condições para o recrutamento de mão-de-obra foram assim descritas por um dos
pioneiros, o senhor Luiz Verano: [...] Mandavam um destacamento precursor, onde
se pregava um cartaz anunciando o dia em que seriam feitos os recrutamentos de
jovens para trabalhar na usina em boa profissão [...]
Ainda comenta Tuler (2007, p. 31):
Segundo
o senhor Amaro Lanari Junior, a seleção de pessoal para trabalhar na usina foi
realizada da seguinte forma: [...] uma propaganda no Brasil inteiro procurando
elementos que já tivessem curso secundário, mesmo incompleto e que estivessem
nas suas cidades do interior esperando um emprego qualquer de colarinho,
vendedor, balconista ou funcionário de banco. Havia milhões de brasileiros com
formação suficiente para em seis meses você fazer dele um técnico, e que não tinham
profissão. Foi isso que fizemos. Veio gente do Brasil inteiro: de Santa
Catarina, de São Paulo, do Norte, do Espírito Santo e de Minas, é claro.
Segundo Alves (2006, p. 1)
“O Brasil se encontrava numa fase de
grande recessão, chegando à contratação de aproximadamente 15 mil homens, em
1958, quando foi decidida a implantação de uma usina siderúrgica em Ipatinga”. E,
segundo Tuler (2007, p.24), “a primeira
etapa de sua construção pode ser considerada no período de
A propaganda foi bem
elaborada. Convidavam jovens de todo país para preencher uma vaga de emprego,
enfatizando o trabalho como “boa profissão”. Para muitos brasileiros era a
grande oportunidade de uma vida melhor, a realização de sonhos de milhares de
jovens de todo país. Cheios de entusiasmo e esperança de um futuro promissor,
esses jovens deixaram para trás familiares (pais, esposas, filhos) parentes,
amigos, e a querida terra natal, (onde muitos viveram sua infância e juventude,
desde que nasceram e depois de adultos se viram obrigados a dar as costas a uma
grande parte da história de suas vidas), enquanto outros, sem forças e coragem
de deixar, muitas vezes, a família (esposa e filho(s)), levavam-nos consigo
para uma terra estranha em busca do sonho da casa própria, de propiciar aos
filhos estudos em boas escolas, mais conforto no lar para os familiares e um
trabalho digno do qual se orgulhassem.
Assim, foram chegando ao
povoado milhares de pessoas para trabalharem na construção da usina e dar
seguimento as atividades da mesma.
Entretanto, para começar a
construção do estabelecimento e colocá-lo em funcionamento, admitir e acolher
funcionários, adquirir matéria-prima, dentre outros gastos que se faziam
necessários para dar início e funcionamento da usina, uma empresa de grande
porte, fez-se necessário buscar recursos no exterior (Japão). Deste modo,
segundo Tuler (2007, p.25) “ficou o
Capital Social assim distribuído: 40%
com o Governo Federal, 20% com o Governo de Minas e 40% de japoneses”. Com
isso registrou-se, mais uma vez, a entrada de capital estrangeiro no país,
surgindo no mercado brasileiro mais uma empresa multinacional.
Destarte, em curto espaço de
tempo, pouco mais que 4 (quatro) décadas, o antigo povoado deixou de existir,
através de um rápido desenvolvimento, surgindo um novo e moderno panorama
urbanístico. Os aspectos mais relevantes que se destacaram para que um inédito
cenário se descortinasse aos olhos dos ipatinguenses, dos brasileiros e, até
mesmo, do mundo, constituem-se em aço, sangue e progresso: história de
Ipatinga.
O município de Ipatinga se tornou
um pólo industrial e hoje conta, de acordo com dados do IBGE, com 240 mil habitantes,
possuindo 34 (trinta e quatro) bairros e perfazendo uma área de 164,509 km². O nome da cidade, Ipatinga, é proveniente do
Tupi e significa "pouso de águas limpas". Um rio de sangue desaguou
nas “águas limpas” que saciaram a sede dos fundadores da Usiminas e de muitos
trabalhadores, mas não se sujaram, não se contaminaram. Muitos contribuíram com
a vida para que Ipatinga crescesse e se tornasse justa e forte.
Depois do massacre ocorrido em
Ipatinga, a direção da empresa optou pela política de que o “homem é o seu
maior patrimônio” e passou a ter uma visão empreendedora, adotando uma postura
de assistência social, treinamento e qualificação profissional.
A Usiminas participou ativamente
na formação da cidade, interferindo em seu planejamento e crescimento urbano e
social. Verifica-se que a cidade possui destaque em relação à saúde, educação,
lazer e moradia, podendo-se atribuir tais predicados à dedicação que a Usiminas
passou a ter com a vida social de seus funcionários, que representaram a célula
máter da população de Ipatinga.
Buscar o passado, fazendo-o
presente, com o fito de construir e/ou reconstruir a lúgubre história de
Ipatinga é uma oportunidade rara de trazer a tona seu contexto histórico,
fazê-lo conhecido e divulgado-lo, tornando-o imorredouro no conhecimento e na
lembrança das pessoas, inserindo-o como importante e significativo
acontecimento na Historia do Brasil.
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Luiz. 1963: O massacre da usiminas/PMMG
BRASIL. REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1946. Constituição Federal do Brasil.
CÂMARA MUNICIPAL DE IPATINGA. Massacre em Ipatinga é relembrado em audiência pública. 09/10/2006. Disponível em http://www,camaraipatinga.mg.gov.br/cmi-v4/noticias.php?id=854. Acesso em 24/10/2007.
CÂMARA MUNICIPAL DE IPATINGA. Debate relembra massacre de Ipatinga na Câmara. 04/10/2007. Disponível em http://www,camaraipatinga.mg.gov.br/cmi-v4/noticias.php?id=1543 . Acesso em 24/10/2007.
MORAES, José Geraldo Vinci de. História do Brasil: Caminhos das civilizações. São Paulo: Atual, 1983, 353p.
MELHORAMENTOS: minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1998.
METASITA - Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ipatinga. História. Ipatinga. Disponível em <http://www.metasita.org.br/história 2.asp>. Acesso 24/10/2007.
NOTÍCIAS BR.COM. Ipatinga. Disponível em <http://www.noticiabr.com/material-diario/ipatinga> Acesso em 24/10/2007.
PEREIRA, Carlindo Marques. O Massacre de Ipatinga. Belo Horizonte:SEGRAC, 1984, 103p.
TULER, Marilene A. Ramalho. Massacre de Ipatinga: mitos e verdades. Belo Horizonte: O lutador, 2007, 246p.
VARELA, Vinícius. Ipatinga e o Massacre. 13/03/2004. Disponível em <http://www.revista paradoxo.com/materia.php?ido=811> Acesso em 24/10/2007.
WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Ipatinga. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ipatinga Acesso em 24/10/2007.
* As autoras são juristas de Ipatinga, Minas Gerais, Brasil.
ANEXOS
Anexo I – Jornal Diário da Tarde, de
08.10.1963, edição 21.197

Anexo II – Jornal Estado de Minas de 08 de outubro de 1963.
Anexo III – Jornal Estado de Minas, quarta-feira, 09
de outubro de 1963.

Anexo IV – Jornal Diário da Tarde, Belo
Horizonte, quarta-feira, 09.10.1963.
Anexo V – Jornal Diário da Tarde, Belo Horizonte,
quinta-feira, 10.10.1963.

Anexo VI – Jornal
Diário da Tarde, Belo Horizonte, quinta-feira, 10.10.1963.

Anexo VII –
Jornal Diário da Tarde, Belo Horizonte, quinta-feira, 10.10.1963.

Anexo VIII – Foto tirada em 16 de agosto em 1958
quando o Presidente Juscelino Kubitschek cravou a estaca inicial para a
construção da Usiminas. (foto extraída do site
http://www.usiminas.com.br/Secao/0,3381,1-1624,00.html)

Anexo IX – Ipatinga, no início da
construção da Usiminas (foto extraída do site
http://www.usiminas.com.br/Secao/0,3381,1-1624,00.html).

Anexo X – Vista aérea da cidade de Ipatinga (foto extraída
do site http://www.ipatinga-mg.com.br/acidade.php#).

Anexo XI – Anél Viário no
bairro Iguaçu, em Ipatinga, e ao fundo a USIMINAS (foto extraída do site
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ipatinga).
