Um Dia Qualquer?
Palestras para pensar sobre a dignidade humana

Heitevaldo Neto Gomes
Gustavo Barbosa
Paulo Kimak
Sarah dos Santos
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   Ao me inscrever em uma palestra sobre Direito comparado, pensei, a princpio, que seria algo totalmente tcnico, falar apenas sobre leis ou, como diz o nome, resumidamente, comparar as leis.

   Mas ao chegar ao local da palestras, numa bela manh manauara, e ouvir o primeiro palestrante iniciar sua exposio, Dr. Joaquim Jos Miranda Jnior, senti algo diferente. Da vem a primeira questo: como sentir algo diferente se nunca havia participado de uma palestra sobre o tema? Simples. Por querermos sempre conceituar algo sem antes ter conhecimento.

   Mas no foi por isso que a palestra me surpreendeu, ou me conquistou. Fui levado a pensar de uma forma diferente, fora do normal, isso foi impactante - como voc querer algo, mas no poder por estar sendo levado a outro lugar, sem conhecer, e quando conhece, se apaixona.  Quando instigado a pensar sobre um tema, voc se v diferente. Fiquei atnito - confesso.

   O primeiro assunto foi: a dignidade humana. Por ser estudante de Direito (no primeiro perodo termos em nossa grade a disciplina de Filosofia) j havia sido levantado o tema em discusso, na sala. Mas de uma forma diferente ele foi exposto desta vez: me sentia como se nunca tivesse tocado no assunto, pois a abordagem foi bastante minuciosa, perspicaz.

   Depois da exposio eu me questionei: por que um homem capaz de ferir a outro homem por, s vezes, coisas banais?  At onde o homem capaz de ferir sem se sentir ferido, isso ser possvel? O que fazem por coragem, modismo, egosmo ou por fazer, tornando-se assim maior? Mas maior em qu? O que lhe torna maior, ferir a dignidade do prximo?

   Eu fiquei com essas perguntas em minha mente, no tive reao para exp-las. Fiquei perplexo, queria uma resposta, mas acredito que se houvessem respostas a essas perguntas, elas me chocariam ainda mais, e no estava preparado para isso. A aula continuava – era muito mais que uma palestra – e cada vez mais se tornava interessante.

   Ele, o palestrante, passou a falar sobre as cadeias pblicas brasileiras. Fiquei perplexo com as imagens, como elas esto abandonadas. Procurei motivos para aquilo, ao mesmo tento que havia uma lgica, no havia. Como o Estado quer manter uma pessoa que cometeu um erro (delito) naquela situao, sem estrutura, sem uma sociabilizao, sem um tratamento psicolgico, mostra o claro abandono das cadeias? Parece que o Estado no se preocupa com o preso em si, apenas mais uma pessoa que no teve sorte na sociedade. Mas como querer consertar algo se no faz por onde? difcil.

   Tivemos idias timas expostas pelo palestrante como usadas em vrios pases, um exemplo a pulseira com dispositivos que informam onde o preso est (pulseira eletrnica para preso). repugnante a situao. Sadas h, e vrias, o que no vemos interesse por quem comanda, o que nos parece.

   O Dr. Ricardo Rabinovich-Berkman, argentino, deu continuidade palestra. Com uma palestra descontrada, participativa, interativa, conquistou-me de vez, fazendo aquele sbado ser diferente de todos. Foi onde me apeguei de vez no que escolhi, foi o sbado da mudana, de onde comecei a me questionar.

   Quando ele disse hoje, tenho mais perguntas que respostas eu fiquei pensando, como uma pessoa com alto grau de conhecimento pode dizer isso, depois explicou quando jovem eu tinha mais respostas, ou pelo menos pensava que as tinha. O tempo de vida nos faz pensar, tomar cuidado com as afirmaes, e perceber, por fim, que a vida nos faz questionar. Fiquei, depois de seu breve discurso, pensativo - mais do que na primeira vez – como eu, um jovem apenas, vou questionar as palavras de uma pessoa com alto grau de sapincia? O que tinha de fazer era ouvir o que ele iria compartilhar do seu grandioso conhecimento conosco.

   Seu primeiro questionamento foi: o desenvolvimento existe? Eu fiquei pensando em uma resposta, e tinha at uma, do tempo de colgio, aquilo que encontramos em livros, lemos em jornais. Comeou o grande momento. O momento de, realmente, pensar. Mas sim, existe? (exclamou). Eu tambm pergunto a voc que est lendo. Existe? (pense). Ser que desenvolvimento apenas fazer prdios altos, longas pontes, grandes avenidas? Ser que desenvolvimento construir grandes mquinas, diminuir os objetos (os micros), construir robs? Essas perguntas no momento pareciam sem sentido para mim. Foi da que passei a refletir o que ele havia falado no incio, tenho mais perguntas do que respostas. Foram brilhantes suas perguntas, concretizavam o que dissera.

   Comeou por uma linha de pensamento histrica, bastante sutil. Desde o surgimento do homem. Passou por explicaes sobre economia de Adam Smith, que criou o termo liberalismo, incio do capitalismo industrial, achando-se assim mais desenvolvidos. Trouxe explicaes de o desenvolvimento ser de acordo com a raa, a partir da explicao dos cientistas; com Charles Darwin que dizia que o homem branco era mais desenvolvido que o negro. Trouxe a explicao do Nazismo, tendo como desenvolvida apenas a raa ariana.

   Aps a segunda guerra, o que prevaleceu como desenvolvimento foi o American way of life (modo de vida americano). E por fim, o que prevalece atualmente, o sistema Capitalista, formado pelas grandes companhias, as multinacionais, que visam apenas o lucro.

   A meu ver o desenvolvimento relativo, pois no podemos fazer comparao de cultura, de conhecimento, de intelectualidade. O que pode ser desenvolvido para um grupo pode no ser para outro – cai na mesma situao de beleza, pois o que belo para mim pode no ser para voc. 

   Mas quanto aos Direitos Humanos e o desenvolvimento, ser que se relacionam? Esse um ponto cauteloso. Como os Direitos Humanos vo garantir os Direitos reservados a pessoas quando quem toma conta do sistema so as multinacionais, onde as pessoas nada mais so que negcios econmicos, onde as pessoas esto perdendo sua sensibilidade pelo prximo, onde vem no prximo um modo de obter lucro? Em suas ltimas palavras o palestrante perguntou de que adianta falarmos de Direitos Humanos, falar da fome, da felicidade que so assuntos humanistas, onde quem, atualmente, manda o lucro?

   A partir desse sbado mudei, mas no foi mudar radicalmente, mudei o modo de pensar, de ver as coisas, passei a explorar mais a sensibilidade que tenho, passei a ser mais conciso, passei a ser eu, alm de mim.

 

* Alunos do Curso de graduao em Direito da Universidade do Estado do Amazonas - UEA, que funciona na capital, Manaus, nico do norte do Pas a ser avaliado no MEC com nota 5 (a nota mxima).