Reflexões de um Ouvinte

Irineu Roveda Junior*

Ao assistir e deparar-se com doutores e estudiosos do Direito em seminários, congressos e palestras, vê-se que não há como esconder que estamos em meio a uma turbulência de idéias, conceitos, teses, enfim rumos a seguir dentro do estudo do Direito no Brasil, praticamente em todas as suas áreas e suas nuances.

Isso se deve a imensa profusão acadêmica encontrada nas melhores universidades do País, inclusive sua interdisciplinaridade, onde novos pensadores do Direito se dedicam cada vez mais somente à ciência o que, sem dúvida, ilumina novos tempos.

Mas esse “pós alguma coisa” que estamos enfrentando nos levará aonde? A que porto seguiremos, onde vamos ancorar essa nova visão do Direito?

Essa colisão entre princípios fundamentais nos levará à redenção, à “utopia” ou a um obscurantismo ditatorial de uma nova sociedade de filósofos encastelados e que escutam apenas as vozes de dentro do castelo e não de quem o defende ou o enfrenta ou ainda vive da produção do mesmo? Será que isso é uma nova luta de poder ou apenas pensadores do Direito se expressando?

A preocupação de quem opera o Direito no final de sua cadeia, de quem trabalha com as consequências da pesquisa é de que não se tenham mais conceitos ou pelo menos uma relativa certeza sobre os pilares que embasam o Direito.

Inclusive afirmações de que uma garantia fundamental pode ser “sobreposta” ou estar “acima” de outra garantia fundamental, isso tira dessa mesma garantia a sua fundamentalidade e a torna uma simples expressão obrigacional ou de dever. Isso preocupa.

Não se quer contestar, mas refletir se não estamos abusando da “pós modernidade” ou pelo menos levando a sério demais alguns conceitos desconstrutivos.

O professor Luiz Antonio Warat que apresentou à poesia ao Direito ou vice-versa em um artigo de 2004 chamado “Literasofia – Warat textos ilusoriamente completos para o Lapidarium do meu museu discursivo” já nos disse:

A sabedoria de um saber que nos propõe um estilo de existência apoiado na criatividade e no sonho, que insiste em que o homem deve inventar e desejar para continuar existindo, para poder escapar sonhando incessantemente, de uma cultura árida, quase desértica, onde não existe mais a possibilidade de qualquer projeto. Sem as tripas como fundamento, não existe qualquer sentido, qualquer verdade que se possa sustentar. Sem as tripas, sem o coração, sem o desejo como fundamento, não existe comunicação nem diálogo com o outro. Sem as tripas como fundamento, estamos na pós-modernidade: uma cultura do vazio, do espetáculo desmedido da informação banal e fascinante, que terminou roubando da condição humana o seu sentido. O corredor sem saída, o abismo

Fato é que essa etapa pós modernista pode trazer luz ou escuridão ao Estado de Direito, correndo-se o sério risco de estarmos formando cidadãos sem pátria e não bacharéis em Direito e a cidadania não se aprende somente em cadeiras universitárias, se apreende também e principalmente exercendo a profissão escolhida, ensinada e aprendida na faculdade.

Não se vê um interesse imediato ou até específico sobre problemas ou ainda sobre situações fáticas e sobre pessoas e seus problemas, somente vagas noções retiradas da mídia ou da rede mundial de computadores. É tudo macro, é tudo maior e mais complexo e é tudo mais crítico, mais discutível e às vezes a voz é de quem fala mais alto e não de quem tem razão.

Fato é que o Direito no Brasil está novamente tomando a vanguarda das ideias como sempre deveria ser e estar e nós, ouvintes e platéia, ficamos na torcida por profissionais capacitados e que tenham condições de aplicar o Direito com Justiça e Equidade e não somente como se fosse uma ideia achada sem fundar-se em conceitos sólidos e históricos.

 

* JURISTA, FORMADO EM PARANÁ, HOJE MORA E TRABALHA NO MATO GROSSO